terça-feira, maio 24

Que queres ser quando fores grande?

O repto lançado pela Nokas deixou-me a pensar naquilo que eu gostaria realmente de fazer na vida.
Acho que como toda a gente, também eu passei por várias fazes. Lembro-me perfeitamente que de início os meus gostos tendiam para padeiro. Vá-se lá saber porquê! Na altura bastou dizerem-me que eu tinha de trabalhar de noite, enquanto todos dormiam, para eu abandonar a ideia. Depois foi a fase do bombeiro. Não me lembro porque é que entretanto desisti disso.
Mas o verdadeiro trauma foi quando tive realmente que tomar uma decisão. Sétimo ano de escolaridade, 12 aninhos. Que queres tu ser quando fores grande? Que porra, lá sabia eu o que queria ser! Queria jogar à bola, brincar à apanhada e ao bate-pé com as meninas e pouco mais interessava.
Por sugestão dos pais lá segui pela área de saúde. Os pais queriam um Senhor Doutor, alguém que tivesse na vida um estatuto que eles não puderam ter. Não os censuro por isso. Na realidade a minha escolha foi mais um adiamento da decisão que uma escolha propriamente dita. Sabia somente que queria fugir a história. E a área de saúde era a que de futuro me dava um leque mais alargado de escolhas.
Comecei as aulas e até estava a achar piada às disciplinas específicas. Mas não mais que isso. Gerou-se o pânico! E se eu na realidade não me interessar por nada? O tempo foi passando e foi quando recebi o meu primeiro computador, um já clássico ZX Spectrum 48K, que quando dei por mim já estava a programar joguinhos na linguagem basic.
E agora? Como é que um rapaz ultra-tímido como eu, explica aos pais babados com as boas notas do filho nas disciplinas de saúde, que queria antes seguir informática? A questão foi mais uma vez adiada na entrada para o nono ano. A minha zona de residência não tinha escolas que leccionassem a área de informática, e a área de saúde permitir-me-ia escolher esse ramo no futuro.
O grito do Ipiranga deu-se na entrada para a Faculdade. É informática e mais nada! Até porque já há muito os meus pais tinham percebido que as minhas notas, não sendo más, não iriam dar para um curso de medicina.
Azar dos azares, as coisas nas provas de entrada (matemática e a famosa prova geral de acesso - PGA) não correram muito bem. Acabei por ir cair num curso de Estatística, cujo primeiro ano era gémeo do de informática. A ideia era pedir transferância ao fim do primeiro ano. Pura ilusão! Andei para ali um ano completamente deslocado e a dizer mal da minha vida. As cadeiras de informática eram uma vergonha - principalmente porque não tinha quaisquer bases do ensino secundário. As de matemática eram ainda piores.
Fim do ano. Pedir transferência de curso com duas cadeiras feitas das 8 do primeiro ano era anedótico.
Deu-se então um rasgo de génio na minha mente. Lixei-me para aquela porra toda, esqueci que aquele ano tinha existido e tentei o reingresso. Comecei tudo de novo. De volta à prova de matemática e à PGA. Resultado? A prova de matemática correu ainda pior! A PGA, por sorte no ano em que contava a melhor de duas provas que podíamos fazer, foi um estalo. Em provas que se queriam de dificuldade idêntica, e acho que eram, tive perto de 30% na primeira e 72% na segunda! No final fiquei com a nota de entrada um pouco mais baixa do que a do ano transacto. Não ia dar, as notas em Informática estavam sempre a aumentar.
Dois ou três dias depois dos resultados de ingresso terem saído lá ia eu pela Cidade Universitária fora, de papéis de inscrição na mão, pronto para me inscrever novamente no curso de Estatística. Pelo sim pelo não fui à Reitoria dar uma olhada nos papéis. Lá estava a minha sina: BI xxxx ....... Euzinho ...... COLOCADO em Informática!
Nem queria acreditar! Foi um dos momentos mais felizes da minha vida. Ainda agora, ao escrever estas linhas, quase que me vêm as lágrimas aos olhos.
O curso correu bem. Não foi excelente, podia ter feito melhor mas mesmo assim estive no Top 10 dos que acabaram nesse ano. Mas demorei mais um ano que o suposto. Menos mal, digo eu.
Até agora tenho trabalhado sempre nessa área. Sinto-me realizado? Bem, mais ou menos. Considero-me um bom profissional dentro do ramo mas continuo a achar que não era bem isto. Que deverá haver por aí outra coisa que seja mais a minha cara.
Se pudesse começar de novo e não olhar a questões salariais, provavelmente tentaria a fotografia. Dizem que até tenho jeito. Eu acho que é um exagero, mas o que é certo é que gosto de fotografar, de preparar sessões, de pensar em locais, ângulos e formas interessantes.
Pode ser que em breve tente um curso de fotografia, a ver se o bichinho se mantém ou se é apenas uma ilusão. Depois o futuro o dirá.

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